terça-feira, 4 de março de 2008

Família Real no Brasil




Você sabia que a corte portuguesa se instalou no Brasil no início do século XIX? O Brasil, que era colônia de Portugal, viu-se, de uma hora para outra, como sede da metrópole! O que teria levado D. Maria I, seu filho D. João VI e quase 15 mil fidalgos portugueses a fugirem para o Rio de Janeiro em 1808?


O motivo da fuga tem nome: Napoleão Bonaparte
Imperador da França a partir de 1804, Napoleão buscava implantar uma política de dominação sobre as demais nações européias ampliando seu poder no continente.
Os territórios invadidos perdiam seus limites territoriais e políticos e eram anexados à França, que disputava com a Inglaterra o título de nação mais poderosa na Europa no início do século XIX. Ambas haviam passado por mudanças importantes em meados do século XVIII, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa.Muitas transformações aconteceram em função desses processos revolucionários: na maneira de produzir, de ver o mundo, nas relações sociais. Também é importante saber que essas transformações não ficaram limitadas aos países onde ocorreram inicialmente, elas foram se expandindo para o resto da Europa, inclusive chegando às Américas, influenciando os processos de independência das colônias.Clique na imagem para ampliá-la:
Napoleão, além de buscar a ampliação do seu poder sobre a Europa, tinha como principal alvo a Inglaterra. Porém, invadir a Inglaterra, que era uma ilha rica e poderosa, seria certamente um fracasso.Como conseqüência da Revolução Industrial, os ingleses buscavam ampliar os mercados, já que precisavam de matérias primas para a produção e de consumidores para seus produtos.Então, a idéia foi armar uma estratégia que enfraquecesse a Inglaterra economicamente: o Bloqueio Continental. Este determinava que os territórios sobre domínio francês estavam proibidos de comercializar com a Inglaterra e, aqueles que não estavam sob domínio napoleônico, seriam invadidos caso desrespeitassem o bloqueio.


E Portugal nessa história?
Nossa metrópole estava endividada com a Inglaterra e, apesar de temer a invasão, não pode aderir ao Bloqueio. Para os ingleses, o comércio com Portugal foi a válvula de escape à estratégia imposta por Napoleão.
No entanto, a relação com a Inglaterra foi também o motivo da invasão francesa em território lusitano. Com receio do exército napoleônico, a corte portuguesa protagoniza um espetáculo que, do ponto de vista português, não foi nada honroso: a fuga da família real portuguesa para o Brasil.

Detalhes da viagem e da chegada da corte ao Brasil
Temeroso das conseqüências da invasão napoleônica, D. João VI, príncipe regente de Portugal, não hesita: a melhor saída estava em direção ao mar.
Sem condições de fugir por conta própria, Portugal contou com a ajuda da famosa esquadra britânica, que colocou seus navios à disposição da corte. É claro que esse auxílio ampliava os compromissos do governo português com o governo inglês. Se o ditado diz que o comandante é o último a abandonar a embarcação, nessa história deu-se o contrário: a família real fugiu de Portugal e deixou seu povo. Aliás, falando em ditos populares, a expressão “foi deixado a ver navios” teria a sua origem na situação a que o povo português foi reduzido: de expectador da partida de seu monarca e dos fidalgos que o acompanharam.A corte embarca assustada e de forma atrapalhada, levando tudo o que fosse possível carregar. Uma verdadeira pilhagem das riquezas portuguesas, inclusive de igrejas, foi feita pela nobreza. O próprio D. João VI teria fugido disfarçado, usando uma pesada crina de cavalo como peruca.Até mesmo a mãe de D. João VI, D. Maria I (conhecida por “a louca”), que vivia enclausurada em função de seus problemas mentais, teria reagido aos berros diante da confusão da partida: “Ai Jesus! Vão pensar que estamos fugindo!”As condições da viagem não foram animadoras e muitos chegaram aqui com a cabeça cheia de piolhos. Temos de considerar que os hábitos de higiene da nobreza européia, naquela época, não eram lá muito bons. Era comum a convivência com cheiros fortes decorrentes da pouca freqüência de banhos e ausência de sanitários.A realidade brasileiraMas não pense que a situação na Colônia, mais especificamente no Rio de Janeiro, que se transformaria em sede da metrópole, era favorável em termos de estrutura e condições de higiene.Documentos de época relatam que os ocupantes dos navios, 35 no total, ao avistarem a Baia da Guanabara, ficaram impressionados com a beleza natural que avistaram. No entanto, a proximidade com o porto, fez com que a primeira impressão não durasse em função do cheiro fétido de esgoto que exalava na baia, utilizada como despejo de todo tipo de lixo, associado ao calor intenso.Seja como for, se pensarmos no contexto da época, a chegada da família real portuguesa no Brasil causou impacto, status, mudanças culturais importantes e também novos problemas ao Brasil.Com o objetivo de acomodar os ilustres visitantes, os moradores possuidores de dois imóveis ou mais, foram brindados com um PR de Príncipe Regente na porta das casas, que seria rapidamente traduzido pela população como “ponha-se na rua”, já que muitos tiveram que ceder suas propriedades para acomodar a corte portuguesa.

Conseqüências do Período Joanino para o Brasil
Após a chegada da corte portuguesa em 1808, a vida jamais voltou a ser a mesma na cidade do Rio de Janeiro.Transformar-se em sede da metrópole trouxe muitas e impactantes mudanças para a cidade, mas, ao mesmo tempo, os problemas aumentaram rapidamente. Afinal, a cidade não tinha infra-estrutura suficiente para abrigar, de uma hora para outra, tantos habitantes a mais.
Uma das primeiras atitudes de D. João VI ao chegar em território brasileiro foi promover a “Abertura dos Portos Brasileiros às Nações Amigas”, o que significou, na prática, o rompimento da exclusividade comercial que Portugal tinha sobre o Brasil.A partir desse momento, a Inglaterra começa a inundar o mercado brasileiro de produtos para serem comercializados aqui. A Inglaterra entra na moda, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Vestir, usar e, principalmente, exibir produtos de origem britânica, conferia status para os brasileiros.E os ingleses mandavam todos os tipos de produtos: patins para andar na neve, carteira para papel moeda (dinheiro em papel) - sendo que na colônia só circulavam moedas - ternos de lã, chapéus e toda a sorte de quinquilharias que atraiam o interesse de consumidores cheios de vontade de “andar na moda”. Desta forma, D. João VI retribui o auxílio inglês na hora da fuga e, a Inglaterra, por sua vez, fura o Bloqueio Continental imposto por Napoleão.

Mais conseqüências do Período Joanino para o Brasil
Continuando a falar em mudanças, do ponto de vista do estímulo à vida cultural e artística, elas não foram menos importantes que as mudanças econômicas. D. João funda a Biblioteca Nacional e o Jardim Botânico no Rio de Janeiro. Muitos espetáculos são trazidos para o Brasil, assim como missões artísticas formadas por pintores e naturalistas, estudiosos da área científica que tinha por objetivo catalogar e analisar animais e vegetações, principalmente em territórios considerados exóticos em relação à Europa. Cursos superiores são criados, com destaque para as áreas de Medicina e Direito.A liberdade de produzir também é assinada por D. João VI, na tentativa de estimular o desenvolvimento econômico brasileiro. No entanto, a nossa indústria, que engatinhava, não conseguia competir com os sofisticados produtos vindos da Inglaterra, o que tornou o processo de industrialização mais uma idéia do que uma realidade nesse período.O fato é que, depois de ter experimentado ares de liberdade, de ter vivido com requintes de corte, será muito difícil o Brasil aceitar a volta à situação de colônia.Em 1821, após a derrota napoleônica, os portugueses passam a exigir a volta da corte para Portugal. D. João retorna para não perder o trono, mas deixa aqui seu filho, o Príncipe D. Pedro de Alcântara, com a intenção de que este liderasse o movimento de independência que, segundo sua opinião, era questão de tempo.D. João VI, já em Portugal, morre em 1826, alguns anos após a Independência do Brasil, ocorrida oficialmente em 1822.
Fonte: Klickeducação

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